“Há um grande silêncio
que está sempre à escuta…”
(Mario Quintana)
José Ottoni Outeiral abraçou sua finitude e partiu. Completou seu ciclo. Esgotou seu tempo. E o tempo não é contra nem a favor. Ele, o tempo, apenas dimensiona o possível. Em nós, a saudade inspirada na poesia de Chico Buarque: “a saudade dói como um barco, que aos poucos descreve um arco e evita atracar no cais.”
Na valise da transcendência, em sintonia com seu otimismo, Outeiral levou a convicção do dever cumprido, e a esperança de que sua dedicação não tenha sido em vão.
Deixou-nos o necessário para prosseguirmos os rabiscos na construção do mosaico policromado, que nunca será definitivo.
Deixou-nos a régua e o compasso, que nos ajudam a projetar elipses, parábolas, hipérboles e outras sinuosas geometrias, soltas no espaço, como uma ponte nos convidando para passar.
No oceano de sua existência, José Outeiral escolheu ser a vela que acolhia calmarias e tempestades. Quando sopravam os ventos dos desencontros e descaminhos, a vela que nunca se omite, se necessário, apontava a turbulência como saída. “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente, é coragem …” (Guimarães Rosa)
E assim compartilhamos e assimilamos a arte de sobreviver, até sermos outorgados a viver criativamente.
No seu arrasto, do Oiapoque ao Chuí, o bom gaúcho Zé, como sinuelo, foi nos agrupando, formando um coletivo, cultivando a força da união na diversidade e na horizontalidade.
Hoje, sem carecer de cincerro, aprendemos com o seu legado, que só é nosso aquilo que é de todos. Sem exclusividade.
Na escuta de seu silêncio, Outeiral espera que sigamos em frente, singrando novas e renovadas possibilidades.
E que venha o amanhã!